segunda-feira, setembro 15, 2003
Israel & Arafat
O médio oriente continua, infelizmente, em brasa. O tão afamado "roteiro de paz" está esquecido. E decerto assim ficará durante os próximos tempos.
É pena. Desde o aperto de mão entre Arafat e Rabin, e depois da morte deste último, que não havia um golpe de esperança. Com a mediação recente dos Estados Unidos (que finalmente parecem ter posto de lado qualquer imparcialidade) o processo de paz parecia ir andar em frente. Fatah, Jihad Islâmica e o Hamas tinham acordado um cessar-fogo, e o governo Ariel Sharon prometia retirar as tropas de Israel dos territórios ocupados.
Um mês depois tudo caiu por terra. Os terroristas denunciaram as tréguas, Sharon quer "decapitar" o Hamas e expulsar, ou até matar, Arafat.
Já aqui disertei, recordem-se, acerca do conflito e deixei clara a minha posição.
No caso específico da denúncia do "Road Map", não ponho as culpas nem numa parte nem noutra: é certo que os terroristas atacaram novamente alvos israelitas, e que Arfat não pode ou não os quer controlar. De resto, Ariel Sharon parece mais interessado em tornar o seu arqui-inimigo num mártir, que o descredibilizar. Enfim.
O que me parece inacreditável é como parece haver uma cegueira e surdez colectiva face as recente declarações (e acções) de Sharon, seu ministro da Defesa e respectivo chefe de segurança.
Primeiro mandaram um prédio pelos ares onde se escondia um terrorista. Era um prédio habitado por palestinianos, que tinham sido evacuados sem aviso do que se iria passar. Ficaram com o que traziam nos braços.
Não tenho a mínima dúvida - a mais ínfima - que se o prédio fosse habitado por israelitas, ainda estava de pé.
Esse tratamento como se de seres infra-humanos se tratasse revolta-me.
Depois toda esta recente preseguição acelelerada aos líderes terroristas. Deixa-me incrédulo.
Terrorista ou não, todos temos certos direitos: direito a um julgamento, a um prisão decente, a uma defesa e à presunção da inocência, até prova do contrário. Aos regimes que não o fazem (Cuba, China, Alemanha Nazi, URSS) eu chamo totalitários, anti-democráticos e repugnantes.
Ora Israel está, nestes termos, perfeitamente alinhado com os referidos regimes.
Como podemos aceitar que se mate Arafat, assim sem mais nem menos. E quem diz Arafat diz os outro líderes que são assinados sem qualquer julgamento.
Compreendo que não deve ser nada fácil lidar com o terrorismo. O dia-a-dia em Israel, minado pelo medo, constante, deve ser tudo menos agradável. Mas afinal os Israelitas lutam por quê? Pela liberdade, pela democracia? Pela paz?
Como? Como, se não são eles a practicarem a liberdade e a paz?
Os terroristas que organizam e executam os actos bárbaros contra Israel devem, sem sombra de dúvida, ser julgados. Devem pagar por tudo o que fazem.
Mas Israel não encontrou o caminho justo e legal de o fazer. É tão estúpido, mas um dos povos que mais sofreu na história torna-se carrasco na geração seguinte, usando os métodos de Himmler, Heydrich e Keitel.
Perdoem-me este devaneio, mas há coisas que têm de sair deste corpo :D
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