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sexta-feira, setembro 19, 2003


// posted by michael seufert @ 18:35

Directamente do "Janela Para o Rio", 

salta este pequeno episódio.
Não resisto a publicar o que o referido blog recebeu por mail

A conversa de um filho americano com o pai, satiriza da maneira mais compacta e inocente, a política externa do Estados Unidos.
Simples e eficaz.

«Filho: Paizinho, porque é que tivemos que atacar o Iraque?
Pai: Porque eles tinham armas de destruição em massa, filho.
F: Mas os inspectores não encontraram nenhumas armas de destruição em massa.
P: Isso é porque os iraquianos as esconderam.
F: E porque é que nós invadimos o Iraque?
P: Bom, as invasões funcionam sempre melhor que as inspecções.
F: Mas depois de os termos invadido, AINDA não encontrámos nenhumas armas, pois não?
P: Isso é porque as armas estão muito bem escondidas. Mas deixa lá, haveremos de encontrar alguma coisa, provavelmente antes mesmo das próximas eleições.
F: Para que é que o Iraque queria todas aquelas armas de destruição em massa?
P: Para as usar numa guerra, claro.
F: Estou confuso. Se eles tinham todas aquelas armas e planeavam usá-las numa guerra, então porque é que não usaram nenhuma quando os atacámos?
P: Bem, obviamente não queriam que ninguém soubesse que eles tinham aquelas armas, por isso eles escolheram morrer aos milhares em vez de se defenderem.
F: Isso não faz sentido, paizinho. Porque é que eles haveriam de escolher morrer se tinham todas aquelas armas poderosas para lutar contra nós?
P: É uma cultura diferente. Não é suposto fazer sentido.
F: Não sei o que é que tu achas, paizinho, mas não me parece que eles tivessem quaisquer daquelas armas que o nosso governo dizia que eles tinham.
P: Bom, sabes, não interessa se eles tinham ou não aquelas armas. De qualquer modo nós tínhamos outra boa razão para os invadir.
F: E qual era?
P: Mesmo que o Iraque não tivesse armas de destruição em massa, Saddam Hussein era um cruel ditador, o que é outra boa razão para invadir outro país.
F: Porquê? O que é que um ditador cruel faz para que seja correcto invadir o seu país?
P: Bom, pelo menos uma coisa, ele torturava o seu próprio povo.
F: Assim como fazem na China?
P: Não compares a China com o Iraque. A China é um bom parceiro económico, onde milhões de pessoas trabalham por salários de miséria, em condições miseráveis, para tornar as empresas norte-americanas mais ricas.
F: Então, se um país deixa que o seu povo seja explorado para o lucro das empresas americanas, é um bom país, mesmo se esse país tortura o povo?
P: Certo.
F: Porque é que o povo no Iraque era torturado?
P: Por crimes políticos, principalmente, tais como criticar o governo. As pessoas que criticavam o governo no Iraque eram presas e torturadas.
F: Não é isso exactamente o que acontece na China?
P: Já te disse, a China é diferente.
F: Qual é a diferença entre a China e o Iraque?
P: Bom, pelo menos uma coisa, o Iraque era governado pelo partido Baas enquanto que a China é comunista.
F: Não me tinhas dito uma vez que os comunistas eram maus?
P: Não; só os comunistas cubanos são maus.
F: Porque é que os comunistas cubanos são maus?
P: Bom, pelo menos uma coisa, as pessoas que criticam o governo em Cuba são presas e torturadas.
F: Como no Iraque?
P: Exactamente.
F: E como na China, também?
P: Já te disse, a China é um bom parceiro económico. Cuba, por outro lado, não é.
F: Porque é que Cuba não é um bom parceiro económico?
P: Bem, é assim, no princípio dos anos 60, o nosso governo fez umas leis que tornaram ilegal que os norte-americanos tivessem trocas comerciais ou outros negócios com Cuba, até que eles deixassem de ser comunistas e começassem a ser capitalistas como nós.
F: Mas se nós acabássemos com essas leis, abríssemos o comércio com Cuba, e começássemos a fazer negócios com eles, isso não ajudaria os cubanos a tornarem-se capitalistas?
P: Não te armes em chico-esperto.
F: Eu acho que não sou.
P: Bom, de qualquer modo, também não há liberdade de religião em Cuba.
F: Assim como na China, com o movimento Falun Gong?
P: Já te disse, deixa-te de dizer mal da China. De qualquer maneira, Saddam Hussein chegou ao poder através de um golpe militar, por isso ele não era realmente um líder legítimo.
F: O que é um golpe militar, paizinho?
P: É quando um general toma conta do governo de um país pela força, em vez de eleições livres como nós temos nos Estados Unidos.
F: O líder do Paquistão não chegou ao poder através de um golpe militar?
P: Referes-te ao General Pervez Musharraf? Uhm, ah, sim, foi; mas o Paquistão é nosso amigo.
F: Como é que o Paquistão é nosso amigo se o seu líder é ilegítimo?
P: Eu nunca disse que Pervez Musharraf era ilegítimo.
F: Não acabaste de dizer que um general que chega ao poder pela força, derrubando o governo legítimo de uma nação, é um líder ilegítimo?
P: Só Saddam Hussein. Pervez Musharraf é nosso amigo, porque ele nos ajudou a invadir o Afeganistão.
F: Porque é que nós invadimos o Afeganistão?
P: Por causa do que eles nos fizeram no 11 de Setembro.
F: O que é que o Afeganistão nos fez no 11 de Setembro?
P: Bem, em 11 de Setembro de 2001, dezanove homens, quinze dos quais da Arábia Saudita, desviaram quatro aviões e lançaram três contra edifícios, matando mais de 3000 norte-americanos.
F: Então, onde é que o Afeganistão entra nisso tudo?
P: O Afeganistão foi onde esses homens maus foram treinados, sob o regime opressivo dos Taliban.
F: Os Taliban não são aqueles maus radicais islâmicos que cortam as cabeças e as mãos das pessoas?
P: Sim, são esses exactamente. Não só cortavam as cabeças e as mãos das pessoas, como também oprimiam as mulheres.
F: Mas o governo de Bush não deu aos Taliban 43 milhões de dólares em Maio de 2001?
P: Sim, mas esse dinheiro foi uma recompensa porque eles fizeram um bom trabalho na luta contra as drogas.
F: Na luta contra as drogas?
P: Sim, os Taliban ajudaram muito, para obrigar as pessoas a deixarem de cultivar papoilas de ópio.
F: Como é que eles fizeram tão bom trabalho?
P: É simples. Se as pessoas fossem apanhadas a cultivar papoilas de ópio, os Taliban cortavam-lhes as mãos e as cabeças.
F: Então, quando os Taliban cortavam as cabeças e as mãos das pessoas que cultivavam flores, isso estava certo, mas não se eles cortavam as cabeças e as mãos por outras razões?
P: Sim. Nós achamos bem se os radicais fundamentalistas islâmicos cortam as mãos das pessoas por cultivarem flores, mas achamos cruel que eles cortem as mãos das pessoas por roubar pão.
F: Mas na Arábia Saudita eles não cortam também as mãos e as cabeças das pessoas?
P: Isso é diferente. O Afeganistão era governado por um patriarcado tirânico que oprimia as mulheres e as obrigava a usar burqas sempre que elas estivessem em público, e as que não cumprissem eram condenadas à morte por apedrejamento.
F: Mas as mulheres na Arábia Saudita não têm também que usar burqas em público?
P: Não, as mulheres sauditas simplesmente usam uma vestimenta islâmica tradicional.
F: Qual é a diferença?
P: A vestimenta islâmica tradicional usada pelas mulheres sauditas é uma roupa modesta mas em moda que cobre todo o corpo da mulher excepto os olhos e os dedos. A burqa das afegãs, por outro lado, é um instrumento maligno da opressão patriarcal que cobre todo o corpo da mulher excepto os olhos e os dedos.
F: Parece-me a mesma coisa com um nome diferente.
P: Bom, não vais agora comparar o Afeganistão com a Arábia Saudita. Os sauditas são nossos amigos.
F: Mas parece-me que disseste que 15 dos 19 piratas do ar do 11 de Setembro eram da Arábia Saudita.
P: Sim, mas foram treinados no Afeganistão.
F: Quem é que os treinou?
P: Um homem muito mau, chamado Osama Bin Laden.
F: Ele era do Afeganistão?
P: Aahh, não, ele era também da Arábia Saudita. Mas era um homem mau, um homem muito mau.
F: Se bem me lembro, ele já tinha sido nosso amigo.
P: Só quando nós o ajudámos e aos mujahadin a repelir a invasão soviética do Afeganistão nos anos 80.
F: Quem são os soviéticos? Não era o Império do Mal, comunista, que o Ronald Reagan falava?
P: Já não há soviéticos. A União Soviética acabou em 1990, ou mais ou menos, e agora eles têm eleições e capitalismo como nós. Agora chamamos-lhes russos.
F: Então os soviéticos, quero dizer, os russos, agora são nossos amigos?
P: Bem, não efectivamente. Sabes, eles foram nossos amigos durante uns anos quando deixaram de ser soviéticos, mas depois decidiram não nos apoiar na invasão do Iraque, por isso agora estamos aborrecidos com eles. Também estamos aborrecidos com os franceses e os alemães porque eles também não nos ajudaram a invadir o Iraque.
F: Então os franceses e os alemães também são maus?
P: Não completamente, mas suficientemente maus para termos mudado o nome das French Fries (batatas fritas) e das French Toasts para Freedom Fries (batatas da liberdade) e Freedom Toasts.

(O episódio mais ridículo da história, digo.)
F: Nós mudamos sempre os nomes à comida quando outro país não faz o que nós queremos?
P: Não, isso é só com os nossos amigos. Os inimigos invadimo-los.
F: Mas o Iraque não foi um dos nossos amigos nos anos 80?
P: Bem, sim. Durante algum tempo.
F: Saddam Hussein não era então o líder do Iraque?
P: Sim, mas nessa altura ele estava em guerra contra o Irão, o que fez dele nosso amigo, temporariamente.
F: Porque é que isso fez dele nosso amigo?
P: Porque nessa altura o Irão era nosso inimigo.
F: Isso não foi quando ele lançou gás contra os curdos?
P: Sim, mas como ele estava em guerra contra o Irão, nós olhámos para o lado, para lhe mostrar que éramos seus amigos.
F: Então, quem lutar contra um dos nossos inimigos torna-se automaticamente nosso amigo?
P: A maior parte das vezes sim.
F: E quando alguém luta contra um dos nossos amigos torna-se automaticamente nosso inimigo?
P: Às vezes isso é verdade, também. Porém, se as empresas americanas poderem lucrar vendendo armas a ambos os lados ao mesmo tempo, tanto melhor.
F: Porquê?
P: Porque a guerra é boa para a economia, o que significa que a guerra é boa para a América. Além disso, visto que Deus está do lado da América, quem se opõe à guerra é um ateu, anti-americano, comunista. Percebes agora porque é que atacámos o Iraque?
F: Acho que sim. Nós atacámos porque era a vontade de Deus, certo?
P: Sim.
F: Mas como é que nós sabíamos que Deus queria que atacássemos o Iraque?
P: Bem, estás a ver, Deus fala pessoalmente com George W. Bush e diz-lhe o que deve fazer.
F: Então, basicamente, estás a dizer que atacámos o Iraque porque George W. Bush ouve vozes na cabeça?
P: Sim! Finalmente percebes como o mundo funciona. Agora fecha os olhos, aconchega-te e dorme. Boa noite.
F: Boa noite, paizinho.»


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